domingo, 14 de outubro de 2007

Anorexia e bulimia
A cura é mais fácil com tratamento, compreensão e o fim do preconceito.
  • Kátia Monteiro


A anorexia e a bulimia têm se manifestado em número cada vez maior de jovens em quase todo o mundo. A anorexia nervosa é uma disfunção alimentar, que ocorre com maior incidência nos jovens entre 14 a 25, cerca de 95% dos casos ocorrem em mulheres. A anorexia mata por ataque cardíaco, devido a falta de sódio e potássio no organismo. O índice de mortalidade em pessoas com anorexia situa-se entre 15 a 20%, sendo o maior entre os transtornos psicológicos. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, foram registrados 193 casos de morte por anorexia, no período de 1996 a 2004. Na Bahia tem ocorrido diversos casos desses distúbios. Em Feira de Santana correu um caso recente de uma adolescente de 15 anos, internada para tratamento por determinação judicial.

A vítima dessa doença, tem o hábito de submeter-se a uma rígida dieta alimentar com o objetivo de alcançar um padrão estético de magreza excessiva, estabelecido principalmente pela mídia. A anorexia é uma doença difícil de ser tratada, pois envolve fatores psicológicos, sociais e genéticos. A pesquisa da psiquiatra Cynthia Bulik da Faculdade de Medicina da Universidade da Carolina do Norte (EUA ) revela, que o fator genético é responsável por 56% do desenvolvimento da anorexia.

Uma pessoa anoréxica pode também ser bulímica. Na bulimia, ao contrário da anorexia, o indivíduo ingere alimento em excesso. Movido pelo sentimento de culpa por ter ganho de peso, pratica exercícios exaustivamente, vomita os alimentos que come ou ingere purgantes, laxantes e diuréticos. A bulimia pode causar graves danos ao esôfago, aos dentes e às glândulas salivares, por causa do ácido estomacal existente no vômito e em alguns casos levar à morte.

Diversos são os empecilhos para tratar pacientes com anorexia e bulimia. Os principais são a negação de que estão doentes e por esconderem dos familiares que possuem essas disfunções. Alguns casos demonstram que os pais demoram a perceber que os filhos possuem esses distúrbios e alguns resistem submetê-los a tratamento, por não terem conhecimento da real gravidade da doença.

Felizmente, existe tratamento tanto para a anorexia, quanto para a bulimia. O tratamento consiste em auxílio psicológico, medicamento e orientação nutricional. Os profissionais que tratam do assunto são principalmente nutricionistas e psicólogos, já que a doença apresenta-se como uma disfunção alimentar, que vem sempre associada a problemas psicológicos. A primeira prividência ao iniciar o tratamento de um paciente com bulimia e anorexia é a recuperação de um estado normal nutricional, fazendo o paciente fazer cinco a seis refeições por dia, para reequilibrar o organismo e evitar a sensação de estar farto.

Segundo os psicólogos Cláudio Sinoti, terapeuta junguiano e Íris Sinoti, terapeuta transpessoal e junguiana, os pacientes precisam de acompanhamento psiquiátrico, onde serão prescritos os medicamentos que o auxiliem a superar o transtorno. A terapia ajudará o paciente a lidar com as situações que causaram a compulsão, levando-o a tomar conhecimento de que possui a doença e assim modificar positivamente a sua percepção corporal. O paciente poderá receber alta gradativamente, porém serão feitas reavaliações periódicas para constatar sua melhora.

Cláudio e Íris Sinoti aconselham que os pais fiquem atentos ao comportamento dos filhos, os seus hábitos, compulsões, distorsões e amizades. Afirmam que os jovens recebem uma grande quantidade de informações e os pais são essenciais para ensinar-lhes a ter sendo crítico. “Os pais próximos aos filhos são o melhor remédio contra qualquer tipo de distúrbio. No primeiro sintoma de desequilíbrio ou conflito, os pais deverão procurar imediatamente um tratamento, com terapeuta ou psicólogo, além do psiquiatra, pois quanto mais cedo o tratamento se inicia, maior a possibilidade de recuperação e menores serão os efeitos na vida do paciente.”

Embora a manifestação dessas disfunções ocorram principalmente nos adolescentes do sexo feminino e mulheres jovens, já foi detectada em rapazes, embora em menor número. Em Salvador, a psicóloga Íris Sinote conta que tratou de pacientes do sexo masculino. “Em nosso consultório já atendemos dois casos. No entanto, as estatísticas dos compêndios de psiquiatria apresentam um percentual de 90 a 95% de mulheres. Mas estudos recentes demonstram um certo crescimento percentual vinculado ao sexo masculino”. Outro problema que acompanha os adolescentes anoréxicos e bulêmicos de ambos os sexos é a dismorfia, uma doença psicológica, onde a pessoa tem uma visão distorcida do próprio corpo.
A anorexia pode causar em pessoas do sexo feminino a ausência de ao menos três ou mais menstruações e danos ao sistema reprodutor. Nos rapazes ocorre a diminuição ou ausência da líbido e impotência sexual. Em ambos os sexos pode ocorrer crescimento retardado, descalcificação dos dentes; cárie dentária; depressão; bulimia, danos intestinais, por causa do uso excessivo de laxativos; danos ao rim, devido à utilização de diuréticos, e anemia, causada pelo baixo nível de ferro.

Informar sobre os sintomas referentes à anorexia e a bulimia, bem como suas causas e tratamentos, é imprescindível para o controle dessas doenças ou até mesmo para a cura. É essencial que haja uma conscientização sobre o perigo do não tratamento dessas doenças, assim como a desmistificação, pois as vítimas dessas graves disfunções alimentares são alvo de preconceito, sendo erroneamente consideradas pessoas “fúteis”, que desejam a todo custo manter-se magras.
Os anoréxicos e bulímicos convivem silenciosamente com as doenças, escondendo-se para não serem ridicularizados e desprezados pela sociedade. Em vez de criticar as vítimas, a sociedade deveria procurar mecanismos que evitem a disseminação de padrões estéticos surreais por meio da mídia, onde as pessoas são transformadas em meros objetos. Talvez assim teria sido evitada a morte de Karen Karpenter, vocalista dos Karpenters, que morreu em 1983 de anorexia nervosa, aos 32 anos, depois de sofrer uma parada cardíaca, assim como a modelo Ana Carolina Reston e tantas outras vítimas da anorexia e bulimia.

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